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Os bons e os maus conselhos

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Ansiedade e intransigência são maus conselheiros em qualquer situação. Que dirá em tempos incertos como os atuais? Diante do desastre econômico dos últimos anos, a pressa pela volta do emprego e da renda é natural, desejável e necessária, mas a reconstrução exige seu tempo. Da mesma forma, a depuração de um sistema político disfuncional, esgotado e abominado, não se faz por imposição, e sim pelo diálogo, dentro das regras democráticas.

Ainda assim, há quem veja virtude em agir por impulso e opte pela repulsa à temperança e à racionalidade. A história nos ensina que a saída para a crise não se faz com um só passo, por mais impetuoso e bem-intencionado que possa parecer. O bom caminho é aquele que projeta toda a caminhada.

A insatisfação com a política e o desejo por um sistema mais funcional não são exclusivas do Brasil. Recorro novamente à França não só por ter me formado e vivido lá durante o exílio, mas por se tratar de exemplo recente dos desafios à frente das democracias no século 21 e dos possíveis caminhos a serem perseguidos. Já havia sido um feito notável a eleição de Emmanuel Macron e, agora, com a formação de maioria na Assembleia Nacional pelo République en Marche, o Presidente francês poderá colocar em curso seu arrojado e bem elaborado plano de governo.

Uma avaliação rasa, típica dos afoitos ou dos sectários, diria que Macron foi beneficiado pela alta taxa de abstenção – mais de 56% no segundo turno da eleição legislativa – e pelo ocaso das forças tradicionais do sistema francês. Um olhar mais atento perceberá que o novo presidente da França não é um aventureiro nem um voluntarioso. Ao contrário, Macron tem sólida formação e elaborou durante mais de um ano os diagnósticos e as propostas para atualizar a economia francesa sem perder de vista as demandas sociais e as preocupaçães com a segurança nacional. Não foi a decisão de deixar o governo de François Hollande (ele foi Ministro da economia até agosto do ano passado) que o elegeu, mas sim a construção de um plano sólido, complexo, pautado pela racionalidade e pelo diálogo.

Deste lado do Atlântico, é possível e necessário se elaborar um amplo e completo programa para o futuro do Brasil. Parte dessa agenda já está colocada e defendida diariamente no Congresso Nacional e nas açães políticas das forças responsáveis por recolocar o país nos trilhos, após a destruição de 10% do PIB pela recessão lulopetista e pela corrupção institucionalizada. A reorganização das contas públicas, a determinação em trabalhar por um sistema previdenciário condizente com a nova demografia, comprometido com o fim dos privilégios e adequado à realidade orçamentária, a atualização de uma legislação trabalhista anacrônica são itens fundamentais. Lamentável o casuísmo político de uns ter sido colocado à frente do interesse nacional como ocorreu ontem, no Senado, mas ainda é possível fazer avançar uma reforma tão necessária para a recuperação do emprego.

Como escrevi na semana passada, a retomada da economia é crucial, mas não se trata de um objetivo único e excludente. Os brasileiros querem emprego e melhor qualidade de vida tanto quanto desejam políticos efetivamente comprometidos com o interesse coletivo, partidos mais conectados com a sociedade e abertos aos interesses da cidadania, e corruptos e corrompidos distantes da coisa pública, alguns na cadeia. Mas não é na sanha justiceira nem no abuso de poder que teremos um governo melhor, um estado mais eficiente e menos lesado pela corrupção, uma sociedade mais justa e próspera.

Como acreditar que há justiça quando não se respeitam preceitos constitucionais, como o direito à defesa? Dar tempo aos trâmites da Justiça não é sinal de conivência com o que está errado: ao contrário, é fiar-se ao cumprimento da lei em todos os aspectos. Na economia e na política, as respostas virão ao seu tempo, desde que saibamos dar os passos devidos e não nos rendamos a atropelos ou salvacionismos.

Ao contrário do que muitos pensam, a política não é mero ato de força. O que torna uma democracia madura e republicana é a estabilidade institucional e o respeito às regras que a constituem. Sem líderes nem instituiçães, restaria o caos e, no limite, o fim da república como a concebemos e desejamos.

José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e suplente de senador por São Paulo. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.