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O diálogo com a juventude é o oxigênio que falta à política

Artigo publicado no Blog do Noblat, na versão on-line do jornal O Globo, em 12/04/2017

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As transformações no mundo promovidas pela tecnologia digital são tão fascinantes quanto desafiadoras: o uso e a privacidade de informações pessoais colhidas por empresas e por governos; as profissões que serão extintas e as que ainda estão por surgir; as relações sociais do mundo real versus as das redes virtuais. Na política, a democracia representativa se vê, de um lado, questionada por uma legítima demanda da sociedade por maior diálogo e transparência e, do outro, pressionada pela perigosa ascensão de discursos populistas e pela radicalização da atividade pública.

Tal cenário é de tirar o fôlego de qualquer sociedade. No Brasil, ganha ares ainda mais nebulosos diante da persistente fratura social que nos marca há décadas. Somos um país rico e pobre ao mesmo tempo. Temos um futuro instigante pela frente, mas ainda somos perseguidos pelas dívidas do passado. Nossas desigualdades não são apenas de renda, são essencialmente uma questão de cidadania, apesar de vivermos há quase 30 anos sob uma Constituição apelidada de cidadã. O que fazer?

Um bom passo já está dado: temos uma juventude interessada em construir um país não à base do “nós contra eles” que marcou a última década e disseminou o ódio como arma político-partidária. Uma das mentes mais joviais do debate público, Fernando Henrique Cardoso definiu bem nossa necessidade por mais tolerância e menos vingança, em nome da construção de uma agenda comum pelo país. Pude constatar isso ao participar nesta semana da abertura de um ciclo de debates com universitários da PUC-SP. As perguntas dos futuros economistas e administradores demonstram a preocupação com a retomada do crescimento, com a sustentabilidade da Previdência e das contas públicas e com as posições e projetos de país dos atuais e dos novos partidos. Um oxigênio e tanto para o debate público!

É isso que o Brasil precisa, nas mais diversas instituições e organizações políticas: oxigenar o debate. Isso se faz com maior participação social, ouvindo o que os jovens têm a dizer, mas também encarando as pedras no caminho com racionalidade e seriedade, sem acreditar em ações salvacionistas, fantasias ou atalhos. Processos assim não são fáceis nem indolores, mas são possíveis e necessários. Fizemos isso 40 anos atrás, com a redemocratização, em que o desejo de liberdade política estava diretamente associado ao combate à pobreza e às desigualdades. Demorou até chegarmos à estabilização e à derrubada da hiperinflação promovidas pelo Plano Real, mas chegamos. A nova moeda e as medidas associadas à sua criação, como o fim dos monopólios, a reforma gerencial na administração pública e a patrimonial, entre outras, foram um passo importante para modernizar o Brasil e começar um consistente processo de distribuição de renda. Tanto foi assim que pudemos seguir adiante na consolidação de programas de assistência social e transferência de renda, ainda que muitos desses avanços tenham sofrido um enorme retrocesso frente à histórica recessão do último triênio.

A construção de novos consensos para o futuro do Brasil precisa ter como base uma maior racionalidade no debate associada ao frescor das novas vozes. Por razão me refiro à necessidade de se fazer reformas como a previdenciária: sem exceção, todos os presidentes da República desde 1994 defenderam ajustes no sistema de aposentadorias. Se cabem melhorias na proposta em tramitação no Congresso, que façamos as melhorias. Nada mais velhaco do que simplesmente interditar o debate. O que eu vejo nos jovens é a vontade de entender a situação do INSS, não porque serão eles os principais afetados por uma eventual insolvência fiscal no futuro, mas porque não se deixam sufocar pelas ideologias partidárias.

O engajamento e a inclusão dos jovens no enfrentamento às resistências casuísticas, corporativistas e paternalistas – relatadas desde Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro – e nos debates como os da Previdência, da legislação trabalhista e do sistema tributário será capaz de arejar a agenda nacional e superar de uma vez por todas os ranços ideológicos que bloqueiam nossos avanços como país. é compreensível que parte dos jovens de hoje tenha aversão à política, mas é revigorante ver outros tantos dispostos a uma discussão mais madura do que muitos veteranos de palanques e mandatos, que se omitem. O Brasil e o mundo são melhores hoje e oferecem mais oportunidades do que 50 anos atrás, quando era eu o universitário ouvindo Caio Prado em Belo Horizonte nos instigando a rodar o Brasil e conhecer a realidade nacional. Hoje, nossos estudantes têm acesso às informações de qualquer canto do planeta em um clique e ciência do que o país precisa. É um dever de todos nós, políticos, ouvi-los.

José Aníbal é presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela e suplente de senador por São Paulo. Foi deputado federal e presidente nacional do PSDB.